sexta-feira, 23 de março de 2012

A FANTÁSTICA CRÓNICA DE LEONOR PINHÃO

A irradiação da Taça da Liga

Pelo que se viu e ouviu, Benfica e Chelsea ficaram bastante satisfeitos com o sorteio dos quartos-de-final da Liga dos Campeões que ditou o frente a frente entre os dois emblemas. Jorge Jesus passou uma semana a fazer votos públicos para que lhe caísse em sorte o Chelsea e, do lado dos ingleses, foi ver a alegria com que Didier Drogba celebrou a dança do acasalamento com o Benfica.
Compreendem-se perfeitamente os sentimentos reinantes na Luz e em Stamford Bridge porque nem o Benfica nem o Chelsea queriam, nesta fase, defrontar equipas como o Real Madrid, o Barcelona, o Bayern de Munique ou o AC Milan. As razões são tão óbvias e tão legítimas que nem vale a pena perder tempo a relembrá-las.
Em Londres, ninguém terá ficado especialmente ofendido com Jorge Jesus por tanto ter querido o Chelsea como adversário. Com toda aquela fleuma britânica, levaram a coisa para a brincadeira e fizeram bem.
Já entre nós, causou alguma indignação patriótica a desconsideração pelo Benfica expressa por Drogba através da tal curta dança triunfal inadvertidamente transmitida pela Chelsea TV.
Não se ofendam, benfiquistas. Não percam tempo com menoridades. E tal como na eliminatória anterior a questão não foi entre o Benfica e o Bruno Alves mas sim entre o Benfica e o Zénite de São Petersburgo, também nesta eliminatória o que está em causa é o confronto entre o Benfica e o Chelsea e não entre o Benfica e o Didier Drogba.
No que toca a portugueses, esta edição da Liga dos Campeões anda, no entanto, bastante animalesca.
O Danny imitou um cão no jogo de São Petersburgo contra o FC Porto e quando foi ao Dragão teve de se haver com uma multidão enfurecida. O Bruno Alves imitou-se a si próprio no jogo de São Petersburgo contra o Benfica e quando foi à Luz ainda teve de suportar um coro de vaias nos escassos dez minutos que esteve em campo, apesar de não ter imitado animal nenhum conhecido. Agora temos o Drogba que imitou uma galinha… Ninguém sabe onde é que uma coisa destas possa ir parar.
Uma coisa é certa: se em vez do Benfica tivesse saído o Apoel de Chipre ao Chelsea, Didier Drogba teria dançado “O Lago dos Cisnes”, em pontas, do princípio até ao fim… O que também se compreende.
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Na véspera do mini-clássico (visto que contava para a Taça da Liga tratou-se apenas de um mini-clássico), a PSP de Lisboa, através de um seu oficial, saiu-se com esta: a bancada destinada às claques organizadas dos emblemas visitantes do Estádio da Luz “é uma mais-valia para as forças de segurança e evita problemas entre adeptos principalmente em jogos de risco elevado.”
Este senhor polícia tem de ser imediatamente irradiado.
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A Taça da Liga vai na sua quinta edição e nem o FC Porto nem o Sporting conseguiram ainda levar uma para casa. Este ano também não vai acontecer. É justamente por isso que a Taça da Liga é uma prova “menor” do calendário oficial e que bem podia desaparecer do mapa das competições.
Para o FC Porto, por exemplo, a Taça de Portugal também começou de modo muito desinteressante e pouco ou nada prioritário. O FC Porto esperou 17 anos até sair-se pela primeira vez como vencedor da prova.
A Taça de Portugal começou na temporada de 1938/1939 e foi ganha pela Académica que venceu o Benfica na final por 4-3. Foi a única vitória da Académica na competição e, depois disso, a Briosa chegou a mais três finais mas não teve o mesmo sucesso, antes pelo contrário.
Este ano a Académica vai voltar ao Estádio Nacional. Será a sua quinta presença naquela que é hoje designada como “a grande festa do futebol português”. O seu opositor será o Sporting, que é favorito. Pela lógica corrente, é de admitir que a Académica corte relações com a Taça de Portugal e a irradie da lista do seus objectivos prioritários se não conseguir fazer em 2012 ao Sporting aquilo que tão bem fez em 1939 ao Benfica.
A primeira vitória do FC Porto na Taça de Portugal aconteceu em 1956 com uma vitória por 2-0 na final com o Torreense. Depois desse triunfo, o FC Porto ganhou mais 15 edições da dita Taça. Feitas as contas, para igualar o FC Porto no número de Taças de Portugal conquistadas, o Sporting terá de vencer a Académica na final da corrente temporada. Mas para atingirem o número dos triunfos benfiquistas, 24, ainda lhes falta muito, quer ao Sporting quer ao FC Porto.
O que não é caso para que a Taça de Portugal seja irradiada do calendário. Ou será?
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Pinto da Costa demorou 17 dias a protestar publicamente contra o árbitro Pedro Proença porque, segundo ele, perdoou uma grande penalidade ao Benfica no jogo do campeonato e não demorou nem 5 minutos a declarar, felicíssimo, que “desta já estamos livres” por o FC Porto, de que é presidente, ter sido eliminado pelo Benfica da Taça da Liga.
Com o devido respeito, o senhor não parece estar nos seus melhores dias.
A não ser que Pinto da Costa, a 6 jornadas do fim da prova, tenha a certeza absoluta de que o seu clube vai ganhar o campeonato, o que não se compreende porque futebol é futebol, esta putativamente infeliz tirada do “desta já estamos livres” vai acompanhá-lo até ao fim dos seus dias como presidente do FC Porto tal como, salvo as devidas proporções, a tirada das “papas Nestlé” acompanhou Domingos Paciência até ao fim dos seus dias em Alvalade.
É evidente que os dias de Domingos em Alvalade foram poucos, o que até é um alívio para o treinador porque já não tem mais de ouvir piadas sobre o assunto. Mas o consulado de Pinto da Costa vai prolongar-se ainda por muitos e bons anos e, como futebol é futebol, corre o dirigente um grande risco: sempre que o FC Porto for afastado de uma competição virem-lhe maldosamente recordar que “desta também já estão livres”.
Nesta temporada, por exemplo, já estão livres da Taça da Liga, da Taça de Portugal, da Liga dos Campeões e da Liga Europa.
É, sem dúvida, uma grande liberdade.
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Por razões estratégicas muito admissíveis, deu grande jeito ao FC Porto a revolta do Sporting contra a arbitragem de Bruno Paixão que, cá para mim, deve ser outro grande benfiquista o que só por si justifica que já ande há tantos anos nestas lides.
No fim do jogo de terça-feira, aos microfones da TSF, o presidente do FC Porto juntou no mesmo relambório as actuações de Bruno Paixão e a de Artur Soares Dias, terminando a dizer, com majestade, que nem queria perder tempo com o assunto depois de, justamente, ter debitado durante alguns minutos os seus recados.
Também Vítor Pereira, assim que o jogo acabou, teve o cuidado de proclamar que nos lances de bola parada a favor do Benfica, os jogadores do Benfica obstruem sempre a acção dos adversários e que terá sido assim que os donos da casa chegaram ao 2-2. É verdade que, num curto espaço de 4 minutos, se não fossem as obstruções dos postes e as obstruções das traves o Benfica teria chegado não só ao 3-2, como ao 4-2 e, finalmente, ao 5-2. Adiante…
O jogo já tinha terminado e quero crer que quer Pinto da Costa quer Vítor Correia sabem muito bem que não foi por causa do árbitro que perderam o jogo na Luz.
Vítor Pereira, por exemplo, entendeu com certeza como fatal aquele momento em que mandou o seu Lucho para o banco e viu Jorge Jesus mandar o luxo do banco do Benfica (Cardozo, Saviola, Gaitán) para o relvado. Quanto a Pinto da Costa, verdade seja dita que também não pode deixar de reconhecer a mesma coisa até porque, dizem, é uma pessoa que percebe muito de futebol.
Nesse caso, qual a utilidade dos relambórios de Pinto da Costa e de Vítor Pereira no fim do jogo da porcaria da Taça da Liga?
Tudo indica que seja um apelo em prol da preservação da Verdade Desportiva nas seis jornadas que faltam para o fim do campeonato.
Vamos lá ver se dessa não ficam livres também. Pode acontecer. No fundo, é futebol.


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